12ª Mini-Jornada da Família "A banalização dos valores afetivos e morais"
ARTIGOS E MENSAGENS
OS ADOLESCENTES E A CONSTRUÇÃO DOS VALORES RESUMO Trata o presente artigo de um estudo realizado da fase preliminar da pesquisa Os valores dos jovens no contexto atual. Este estudo privilegiou a fundamentação teórica, no primeiro momento, voltada para as questões do adolescente jovem, e para as questões relacionadas aos valores em suas diferentes e distintas dimensões. Posteriormente, procuramos analisar via reflexão filosófica, os dados já obtidos na fase piloto, com o objetivo de aprofundarmos os dados em direção ao objeto de estudo da pesquisa identificada. Os resultados apontam para três áreas: primeiro a necessidade e relevância de se estudar a questão do jovem, em especial, no contexto atual pelas dificuldades inerentes a seu próprio desenvolvimento e pela as relações que deve efetivar no contexto atual; segundo o significado e complexidade dos valores eleitos por esses jovens, partindo do pressuposto de sua aquisição e construção em termos histórico-sociais e; terceiro a reflexão para a realização de uma proposta pedagógica que viabilize a realização de valores dos jovens na Escola, não como instrução sobre valores, e sim como vivência desses valores.
OS ADOLESCENTES E A CONSTRUÇÃO DOS VALORES
1. INTRODUÇÃO No contexto atual onde determinadas características são identificadas seja no que tange a uma política neo-liberal, seja numa visão de mundo globalizado, o indivíduo que atua nesse contexto, recebendo as influências do meio e participando dessa sociedade com a suas ações e reflexões, tem sido cada vez mais objeto de interesse e preocupação. Este contexto que apresenta os diferentes segmentos da sociedade de forma harmoniosa ou não responde por um determinado período histórico-social marcado por dimensões próprias e categorias específicas. Entre os segmentos da sociedade encontramos a educação que tem por finalidade a formação do aluno, em termos de instrução, de atitudes, de cidadania. Ora, se esse contexto é povoado por Instituições e indivíduos na suas redes de relações sociais e se entre essas Instituições encontramos a educação com um compromisso maior na formação do indivíduo, torna-se importante perceber, identificar e estabelecer ações e estratégias para consolidar esta formação no momento atual. Queremos não só conhecer os atores do processo educacional, mas perceber e refletir sobre seus conhecimentos e sentimentos como forma de lhes oferecer melhores condições para seu desenvolvimento e exercício efetivo de cidadania. Entre os indivíduos/ alunos que estão na escola, onde sistematicamente ocorre a educação, privilegiamos um determinado período de desenvolvimento caracterizado pela adolescência, procurando por um lado detectar os seus valores e por outro buscar caminhos viáveis para que esses valores sejam articulados na promoção de seu próprio desenvolvimento. Este artigo apresenta uma pesquisa piloto inserida no projeto de pesquisa Os valores dos jovens no contexto atual como forma inicial de conhecimento de uma realidade a ser estudada e metodologicamente como forma de identificar dados e perguntas que necessitam de maior precisão e coerência nos procedimentos futuros. O trabalho apresentado encontra-se no atual momento em desenvolvimento, uma vez que os dados até agora obtidos com base nos estudos realizados não nos permitem findar a mesma. Partindo também do pressuposto que a finalização deste trabalho não é de todo pretensão da busca da verdade, visto que a realidade, a subjetividade, a evolução da ciência é hoje em nossos dias, uma constante a considerar. Este trabalho não propõe assim ser finalidade, mas uma perspectiva a ser sempre redimensionada em seu tempo histórico e social. Privilegiou-se neste estudo as indagações que nos causam constantes inquietações sobre a formação de valores: a presença destes valores na sociedade, suas causas e conseqüências, suas potencialidades, em relação ao sujeito social e ao indivíduo como pessoa, mais especificamente aos que se dirigem aos adolescentes. Neste contexto, nos questionamos quais seriam os valores que os adolescentes, nos dias atuais, estabelecem como formadores e delineadores de seus comportamentos. Quais os valores privilegiados pelos adolescentes, que a partir de experiências cotidianas e idéias construídas e apreendidas em sua forma peculiar de leitura da realidade, fundamentariam suas formas de ação, a serem entendidas e seguidas no desenrolar de seus comportamentos. A possibilidade de uma primeira análise dos dados obtidos na fase piloto da pesquisa, nos demonstrou a presença de informações consideradas relevantes entres os adolescentes, não sendo constatada a presença da formação concreta de um hábito ou comportamento arraigado. Porém trouxe a questão da educação, mais uma vez à investigação sobre a possibilidade de ensinar e aprender valores. Com base nos estudos alcançados desenvolvemos nosso trabalho em três etapas, onde a fundamentação teórica norteadora privilegiou os pensamentos de Emanuel Kant, Jean Piaget e Lev Semyonovitch Vygotsky. A primeira etapa constituiu-se do estudo sobre os dados da fase piloto da pesquisa, utilizando-os para delinear o perfil do adolescente de hoje. A Segunda etapa, a partir do desenvolvimento da análise dos dados, discutimos como a escola se articula para atender às demandas deste perfil dos adolescentes. Em uma terceira etapa, quais seriam as possibilidades de trabalhos oferecidos para desenvolver esta problemática nas escolas a partir dos PCNs, em busca de um perfil inovador de atuação no âmbito escolar.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A presente fundamentação teórica, pode ser identificada em três dimensões específicas: a questão dos valores; a questão da subjetividade e a categoria jovem/ adolescente. 2.1. VALORES Neste trabalho abordamos os valores e seus significados sob a ótica do contexto local, do Município do Estado do Rio de Janeiro, a partir do ano de 1999 até o presente momento, e as devidas dimensões que atingem os adolescentes no âmbito social, histórico, cultural, político, econômico e afetivo. Os valores estão presentes na sociedade com significados dispostos entrelinhas, na dimensão entre as ações e a construção do pensamento. Na teoria conhecida como Psicologia Genética do psicólogo suíço Jean Piaget, a inteligência não é inata, mas a gênese da razão, da afetividade e da moral (Piaget, 1994) é feita progressivamente através de estágios sucessivos, onde a criança organiza o pensamento e o julgamento. O saber é construído e não imposto de fora. Para Jean Piaget o desenvolvimento moral é concomitante ao desenvolvimento lógico, com aspectos paralelos de um mesmo processo geral de adaptação. Existe uma reflexão consciente da prática passando por estágios, indo da moral heterônoma baseada na obediência à moral autônoma baseada na igualdade baseando-se nas relações sociais. Em um primeiro momento a relação da criança com o adulto se estabelece na relação baseada na autoridade, em um segundo momento se estabelece na relação entre companheiros num sistema de reciprocidade. Como pudemos observar os valores estarão associados ao caminho, correto ou não, que o desenvolvimento da moral acontecer no indivíduo. É durante o período da adolescência, onde é forte a afirmação da própria identidade, que os conflitos morais são ativos. Obedecer a autoridade do adulto não corresponde ao desenvolvimento do próprio EU. Neste movimento contrário cresce a necessidade de liberdade e de coerência consigo mesmo, norteando o caminho de adaptação e autonomia. Este exercício entre conflito e adaptação favorece a capacidade de adaptação do indivíduo a uma sociedade em contínua mudança e conflito (Díaz-Aguado, 1999), como são hoje as sociedades industrializadas sendo necessária uma educação baseada na resolução de problemas.
Na teoria do psicólogo Lev Senyonovitch Vygotsky a abordagem fundamenta-se na relação entre pensamento e linguagem, procurando possibilitar a descrição e a explicação das funções psicológicas superiores, incluindo a identificação dos mecanismos cerebrais subjacentes a uma determinada função, onde a influência dos mecanismos culturais são decisivos na natureza de cada pessoa. É a cultura que fornecerá ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade e, por meio deles o universo de significações que permite construir uma ordenação, uma interpretação dos dados do mundo real. Nesta visão tornasse indispensável à construção de valores a vivência da escola no mundo social dos adolescentes. A simbiose destas relações nos fazem refletir sobre que indivíduo estamos formando em nossas escolas, ou mesmo, qual indivíduo queremos formar? E para responder a estas indagações: quais os valores que transmitimos ou quais adquirimos nas escolas? E estes valores estariam relacionados somente ao ambiente escolar? Será possível ensinarmos valores nas escolas?, e que estamos desenvolvendo a presente pesquisa. Partindo da ideia que os valores estão relacionados a todos os âmbitos da vida do cotidiano é necessário criar aqui um espaço de intercâmbio constante entre todos os aspectos da vida do ser humano. Podemos aqui citar a importância de visualizar a questão holística como fonte de perspectiva da formação de valores no homem de hoje. Mas afinal o que são estes tão mencionados valores? Em nosso cotidiano estamos constantemente envolvidos em situações que nos causam sentimentos fortes de medo, orgulho, ambição, vaidade, covardia, dignidade, piedade, indignação por injustiças, horror a violência, aflição ou angústia, e outros sentimentos causados por situações que se manifestam em nosso senso moral colocando a prova a nossa consciência moral, pois teremos muitas vezes que realizar opções fundamentadas neste senso moral, que justifique nossas ações e nos responsabilizemos por elas. Os valores estão referendados aí pelo senso moral e pela consciência moral justiça, solidariedade, generosidade, integridade, honestidade e outros. Os valores provam ainda sentimentos de : vergonha, culpa;, admiração, amor, dúvida, contentamento, cólera, medo; que interferem em nossas decisões nos levando a ações que atingirão a nós mesmos e aos outros. Os valores estão sujeitos a transformações, pois oscilam conforme a cultura de cada sociedade. Embora tenha esta característica ele está relacionado a um valor mais profundo e subentendido: o bom ou o bem. Os sentimentos e as ações, nascidos de uma opção entre o bom e o mau ou entre o bem e o mal, também estão referidos a algo mais profundo e subentendido: nosso desejo de afastar a dor e o sofrimento e de alcançar a felicidade, seja por ficarmos contentes conosco mesmo, seja por recebermos a aprovação dos outros. Portanto, o senso e a consciência moral dizem respeito a valores, sentimentos, intenções, decisões e ações referidas ao bem e ao mal e ao desejo de felicidade (Chauí, 1999, p.335). Encontramos ainda a visão de Kant desenvolvendo sua teoria moral baseando-se na razão prática. Esta razão prática seria o instrumento através do qual o homem compreenderia o mundo dos costumes podendo assim orientar suas ações. Analisando os princípios da consciência moral, Kant conclui que a vontade humana é verdadeiramente moral quando regida por imperativos categóricos (Aranha, 1996, p. 285). O imperativo categórico é incondicionado e absoluto e rege a ação humana visando a realização do dever. Rompe assim com a noção de moral para uma realização divina de felicidade, depositando na razão a única e exclusiva responsável pelo ato moral. A lei moral é universal. O sujeito sendo livre e com autonomia a partir da razão automaticamente exercerá seu dever, pois todo imperativo impõe-se como dever, e o sujeito é quem se autodeterminará. Assim a norma tem sua raiz na própria natureza da razão. O caráter pessoal de liberdade é acentuado. Hoje observamos nos jovens esta sede de liberdade por seus direitos, mas o imperativo categórico que impõe ao dever nos leva a questionar sobre a formação dos valores dimensionados simplesmente por um impulso de autodeterminação. Não podemos deixar de incluir neste contexto os valores emergindo categoricamente também das influências culturais. Os valores estarão constantemente presentes nas relações que mantemos com as pessoas com a sociedade, fazendo parte da intersubjetividade. As interferências do senso e da consciência moral nos levam a emitir os juízos de valor, que por sua vez nos dá a noção do diferente , e interfere diretamente na intersubjetividade. Falando sobre esta tintersubjetividade não podemos definir seus limites e extensões de atuação, pois aí estão implicados fatores tais como: política, economia, relações afetivas, sociais, culturais; cuja dimensão torna impossível medir precisamente seus movimentos, visto que constitui-se aí a história através do tempo em um movimento imensurável. É nesta visão que posicionamos os jovens e seus valores tentando dimensionar seus pensamentos construindo juízos de valor. E ao vivenciarem em seu cotidiano a presença de discursos filosóficos emitidos por dirigentes de nossa sociedade totalmente desvinculados da realidade em que vivem, constatam o conflito da realidade em que está imersa nossa sociedade hoje. E referimo-nos então a questão dos paradigmas ultrapassados e os emergentes, onde as idéias não constituem modelo fixo e sim uma série de idéias em constante mutação. Há de se questionar: onde podemos então fundar um conceito pleno de valores a serem ensinados aos nossos adolescentes em nossas escolas. A formação deste novo indivíduo, descobridor de suas potencialidades, seu espaço como protagonista de sua história, nos desafia a levar às escolas uma nova dimensão de leitura de senso comum e consequentemente o surgimento de novos valores. Estará nos adolescentes a raiz destes novos valores? 2.2. QUEM É O JOVEM HOJE? A palavra adolescência vem do latim: ad - a para a + olescere forma incoativa de olere- crescer, significando processo de crescimento. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente considera-se adolescente aquela pessoa entre doze e dezoito anos de idade. Porém, devido às questões socio-culturais atuais os limites se ampliaram e podemos dizer que o período é compreendido entre doze e vinte e um anos, podendo no caso dos rapazes chegar aos vinte e cinco anos (ABERASTURY E KNOBEL, 1992 ). Neste ensaio preliminar se enfoca o período operatório formal dos 15 aos 18 anos para viabilizando o estudo dentro do que Saviani (1996), assinala radicalidade, rigor e globalidade como requisito de uma reflexão filosófica. A profundidade (radicalmente) é essencial à atitude filosófica do mesmo modo que a visão de conjunto. Ambas se relacionam dialeticamente por virtude da íntima conexão que mantém com o mesmo movimento metodológico, cujo rigor (criticidade) garante ao mesmo tempo a radicalidade, a universalidade e a unidade da reflexão filosófica(SAVIANI, 1996, P. 19) As muitas teorias que estudam o adolescente buscando explicá-lo em termos psíquicos e somáticos, enquadrando-o numa etapa (num tempo) caracterizado por uma fase de crise devido as mudanças corporais e conflitos familiares, que uma vez superadas o jovem estaria pronto e adaptado à estrutura do mundo adulto, da sociedade, do sistema dominante. Porém, no contexto atual, o jovem não é somente um representante de uma fase do desenvolvimento humano, uma condição biológica ou psíquica. Ele é mais que isso, é uma definição cultural, é um produto da cultura, portanto dos valores preestabelecidos. Isto, em razão da cultura estabelecer uma íntima relação com os valores, onde estes forjam a cultura e esta serem sistemas de valores. Na constituição de signos e de instrumentos que servem para mediar a relação dos seres humanos entre si e com a natureza, são eleitos os valores para se construir o pensamento humano. O pensamento que é constituído ou mediado pelo conhecimento, embora, nem todo pensamento seja para constituir conhecimento ou realizado pelo conhecimento, implicará no acesso aos conhecimentos que a cultura dispuser ou eleger como referência para uma determinada sociedade. Trata-se, então, de situar o conceito de cultura ou de interculturalidade no sistema de valores. Sendo a escola o lugar que se permite ou deveria consentir a aquisição e a construção de conhecimentos sistematizados, fica clara a sua responsabilidade de adotar uma postura cultural de garantir acesso ao conhecimento, ou seja, ser uma escola cultural. O adolescente é quem mais sofre com a falta de uma cultura do conhecimento na formação de valores, pois nesta fase de postura eminentemente interdisciplinar fazendo uma analogia com o termo pedagógico, onde ele faz a negação, confronto, a complementaridade e enriquecimento dos valores preestabelecidos pela ocidental de negar e inibir por medo o outro, o diferente. Ficando, assim obscurecida a construção de novos valores essenciais a humanidade atual, pela inexistência desta postura construtivista típica dos adolescentes. Destarte a adolescência é a idade na vida em que se começa a enfrentar todos os dilemas de uma sociedade complexa pelo fato de nesta fase se estar vivendo uma dimensão significativa e contraditória do processo de construção da identidade e da superação de uma fase caracterizada pelo ritual de passagem para uma nova. "A situação do jovem é, por definição precária. Quando Freud evoca o chefe manteria seus filhos em estado de infantilização, permanente, proibindo-lhes o acesso às mulheres, ou seja, ao que permite a um menino tornar- se homem. As sociedades humanas, contrariamente, fundam-se através da constante passagem (para os machos e somente para eles) da situação de crianças reduzidas a uma experiência infra-social à de homens jovens, reconhecidos socialmente e ainda dependentes e, finalmente à situação de homens detentores da plenitude de direitos e de privilégios. (ENRIQUEZ, 1990) O jovem faz a inserção no mundo adulto com suas próprias características e valores, e depara-se com vários outros códigos de valores sociais que são experimentados por ele com maior ou menor intensidade, com maior ou menor grau de conflito. É importante que se reconheça nos conflitos e no comportamento do adolescente o confronto cultural e ideológico com uma civilização em crise e a sua importância como uma força geradora de mudança. Pode-se dizer até, que o adolescente contemporâneo vive duas crises ao mesmo tempo, a sua própria e a da civilização. Ou ainda que a civilização vive sua fase de adolescência. A tendência que caracteriza esta etapa, é do ponto de vista do indivíduo, a necessidade do jovem de começar a fazer parte do mundo adulto, e os conflitos que surgem têm a sua raiz nas dificuldades do adulto para dar passagem a essa nova geração que lhe imporá uma revisão crítica de suas conquistas e do seu mundo de valores. (ABERASTURY E SNOBEL, 1992) Ora, por que o mundo adulto dificulta essa passagem? Porque o mundo adulto representa o sistema ideológico dominante, e aceitar a revisão de conquistas e do seu mundo de valores significa arriscar a condição de Poder. A dominação sobre os jovens é indispensável à reprodução da sociedade. O mundo adulto faz uso deste momento a adolescência para implantar a idéia de crise vivida pelo jovem, enfraquecendo o sujeito e impossibilitando a reconstrução dos valores sociais. É inegável e estrondoso o movimento que o jovem faz no processo de superação em busca do novo, e o faz com espírito de justiça social. A busca do novo pode significar no contexto atual a imposição, com razão, de um novo saber, uma nova cultura. A partir do resultado parcial da pesquisa de campo realizada em diferentes espaços escolares, observou-se um determinado perfil de jovens que está demonstrado em síntese, no quadro em anexo. Alguns são estudiosos e outros não; alguns são populares e outros não, alguns gostam de esportes e outros não. Mas para todos há um padrão desenvolvimento, que não é rígido e varia em relação aos aspectos social, cultural, econômico e afetivo. O principal dilema desse período é a tarefa de olhar para o futuro. É a perspectiva de enfrentar essa tarefa que força o jovem a se confrontar com os problemas do contexto social, que não pode ser desconsiderado. 2.3. ADOLESCENTE, JOVEM OU O MESMO SUJEITO? Utilizamos a expressão jovem por duas razões: Primeira, esta é a forma normal e usualmente mais utilizada para os indivíduos nesta faixa etária; segundo, por querer dar à pesquisa uma conotação do sujeito, mais na dimensão histórico-social, do que simplesmente psicológica. Em termos da dimensão de faixa etária utilizaremos o período de 15 a 18 anos, escolhido aleatoriamente, por acreditarmos, a priori, que nesta faixa já existem valores mais definidos, do ponto de vista da escolha e da assunção das mesmas. Ao utilizarmos o termo jovem buscamos uma identificação do ator que vive a adolescência não como uma preocupação primordial dos fatores que envolvem esse período de desenvolvimento, mas como o sujeito que está na fase da adolescência com todo seu manancial de interesses, expectativas, idéias e ideais. O comportamento do jovem do fim do milênio é bastante diferente do jovem das décadas passadas, pelo menos na nossa realidade. A contestação e a rebeldia, de certa forma, significaram a continuidade, a reprodução. Hoje nossos jovens se comportam de maneira outra, um misto de alienação e indiferença ao sistema, que pode vir a significar o novo. O poder neo-liberal também reconhece a necessidade do novo senso comum, só que ele usa estratégias para imprimir um novo, visando a manutenção de hegemonia de dogmas e conceitos considerados como verdades, que mudam só na superficialidade (o neo o pós) mas conservam a essência, o poder do domínio. Reproduz uma história já vivida e já contada que, uma vez re-contada, intervém no original garantindo a continuidade de uma tradição. Torna-se importante ressaltar nesta análise parcial o surgimento de um perfil de jovem que em muito pouco se distancia do perfil do mundo adulto contemporâneo. Enfatiza-se, então a necessidade de rever o estabelecido a partir dessa etapa a adolescência. Destaca-se a adolescência e a educação do jovem como ponto estratégico para a revisão desses valores justamente por se tratar de um momento de superação, de conflito, de busca, da metamorfose. Surge um novo corpo, uma nova cabeça, uma nova emoção, a busca do eu no outro, surge o contra-ponto a lógica estabelecida, surge a esperança... O jovem se encontra, hoje, impossibilitado de estabelecer por si próprio uma hierarquia de seus valores, e aí reside o problema fundamental. Falta-lhe referência. Destacamos dois fatores que, notoriamente, justificam a ausência deste referencial: Primeiro, atravessamos um momento de grande crise social, e sabemos que uma das principais causas dessa crise é a carência de uma autêntica escala de valores. Segundo, a adolescência surge como categoria social forte a partir da segunda metade do século XX, e o padrão de juventude passa a dominar a sociedade. Todos querem ser jovens, desde crianças até os velhos, todos buscam a juventude como estado ideal. Com isso, os valores ditados pelos jovens ganham grande significado no contexto social. Pode-se dizer que a juventude surge como um novo valor moral. Isto, sem dúvida, provocou uma desordem na lógica estabelecida.
3. COMO, NESTE CONTEXTO, A ESCOLA SE ARTICULA PARA ATENDER AS DEMANDAS DESTE NOVO PERFIL DOS VALORES DITADOS PELO JOVEM? Sabe-se que para construir para si próprio uma escala de valores, o jovem precisa do referencial do mundo adulto, como contraponto necessário no processo de superação que ele vai viver em direção a sua autonomia moral. Os valores são num primeiro momento herdados por nós. (ARRUDA, 1998). E, durante o processo de desenvolvimento da moralidade, o sujeito vive diferentes estágios onde valores são construídos. Na adolescência, depois de ter vivido o estágio de anomia e heteronomia, o jovem reedita o estágio de anomia, e faz o confronto de seus próprios valores com os valores do mundo adulto para alcançar sua autonomia - estágio em que os valores já foram refletidos e estão interiorizados, têm significado real para o sujeito e fazem parte de sua consciência moral. Neste momento o jovem faz um vínculo com a realidade e com o contexto social, contexto esse que é representado pelo sistema que por sua vez é corporificado por sujeitos e seus valores. Desta forma, deve-se indagar no como a escola pode reorganizar esta lógica ou deixar emergir uma nova lógica, que dê conta de restabelecer uma escala de valores que sirva de referencial para o esse jovem? A cultura global está clamando pela paz, pela igualdade de direitos, pelo respeito às diversidades, à individualidade, pela preservação do meio ambiente, pela compreensão do outro. A escola deve incorporar esses valores e alimentá-los permanentemente. Todas as atividades educativas devem ser construídas apoiadas nesses valores que, ao mesmo tempo surgem das atividades de toda a comunidade escolar. Os valores assinalados devem estar presente na ação de cada educador, e não no discurso. Deve ser visto não como uma disciplina, mas como uma tarefa de aprendizagem, uma vivência. Os valores eleitos bons ou não são praticados no cotidiano escolar através de projetos coletivos e pessoais. E surgem de todas as relações intersubjetivas que ocorrem no contexto escolar como assinalado anteriormente. Daí a importância de sua investigação e reflexão para identificar que valores estão sendo privilegiados nesta relação. Outro aspecto a ser considerado é que não se pode esperar aceitação por modelos estabelecidos numa cultura tradicional porque, com certeza, a conscientização destes valores não serão contemplada como relevância na problemática local, pelos adolescentes. Durante muito tempo a ciência se ocupou dos conhecimentos enquanto verdades absolutas, conhecimentos científicos que, cada vez mais, se afastavam dos conhecimentos produzidos no cotidiano. Com a mudança de paradigma, surge a necessidade de conceber a ciência de outra forma, que atenda e esteja de acordo com o modelo de sociedade atual. A Escola, por sua vez, não pode ficar de fora destas questões. É preciso rever conteúdos e enfoques a fim de buscar entender o presente, o momento que se vive. Assim, a preocupação em vivenciar valores não pode mais ocupar um lugar secundário no contexto educacional. Cabe a escola refletir sobre a necessidade de intervir de modo a contribuir para que o jovem possa tornar-se reflexivo sobre os valores que possui, os que procura experimentar e os da realidade, que estão a sua volta.
4. EM BUSCA DE UMA PROPOSTA A escola deve ser um lugar onde os valores morais são passados, refletidos, e não meramente impostos ou fruto de hábitos. Até porque, neste contexto de caos social nada se impõe. A escola deve ser democrática, com espaço de aula reservado aos conhecimentos relacionados também a temas morais. A contribuição da escola, portanto, é a de desenvolver um projeto de educação comprometido com a ação reflexiva de questões relacionadas a valores morais que ajude ao jovem a construir e hierarquizar sua própria escala de valores. Existem possibilidades de trabalho a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais. A proposta apresentada pelos PCNs sustenta-se dos fundamentos da Constituição Brasileira. Baseia-se no reconhecimento de preservação de valores que fundamentarão normas e leis no contexto social, para que o sujeito possa exercer sua dignidade, seus direitos e deveres, sua cidadania. Os PCNs destinam-se a todos os brasileiros e objetivam alcançar e fortalecer a meta maior que é a formação do cidadão. Deve-se pensar sobre quais valores tratar para se atingir tal proposta ? São eles o respeito mútuo, justiça, solidariedade e diálogo. É oportuno, ressaltar que, como diz o Professor Puig (1998, p.19) valorar algo é tomar uma decisão baseada em critérios totalmente subjetivos, portanto não é possível afirmar que uma norma ou comportamento seja melhor do que outro, ou seja, não se pode pretender que a aprendizagem de valores se dê meramente pela transmissão de conceitos que podem não ser significativos entre as diversas culturas existentes, mas sim,na possibilidade da reflexão crítica das inúmeras situações cotidianas que se apresentem , possibilitando escolhas, sem, no entanto, perder de vista a adoção de valores universalmente desejáveis. Os Temas Transversais propostos nos PCNs tratam de questões sociais como: Educação Ambiental, Orientação Sexual, Ética, Pluralidade cultural, Saúde, Trabalho e consumo, incorporando dessa forma, o conceito de transversalidade propiciando, portanto, múltiplas possibilidades de situações em que o aluno adolescente atue de forma a adotar valores a partir de critérios definidos pelos seus princípios. A proposta do Professor Josep Maria Puig (1998), se aproxima da metodologia que se imagina para sistematização da criação de oportunidades que possibilitem a vivência das situações geradas através dos Temas Transversais. Ele propõe dinâmicas, exercícios, atividades que levam o adolescente a observar, refletir, analisar, julgar, ou seja, desenvolver um método de pensamento que o leve a adotar valores morais de maneira consciente e participativa, vinculados à construção da democracia, da cidadania, das relações interpessoais favorecendo, consequentemente o seu processo de identidade pessoal. Já, Enrique Palladino propõe no seu livro Proyecto y Contenichos Transversales uma metodologia de projetos. Os conteúdos dos projetos podem ser organizados a partir do interesse dos alunos, segundo o autor. A função do projeto é criar habilidades na organização dos conteúdos baseada no tratamento da informação e no estabelecimento de relações entre fatos, conceitos e procedimentos. O risco que se corre é o de a Escola trabalhar valores através da proposta de transversalidade mas não atentar para a mudança necessária de ordem estrutural onde as disciplinas devem estar organizadas de modo atender os fins, logo devem ser meios e não fins em si mesmo. Uma outra possibilidade que acredita-se que seja mais abrangente, mais completa e, portanto,mais complexa, passa por alguns eixos específicos na escola: 1º - a Escola deve elaborar o seu projeto político pedagógico contemplando a questão dos valores morais não como saberes/atitudes apenas inseridos em disciplinas específicas e sim como questões macro que estão disciplinarmente e transdisciplinarmente comprometidas na formação dos alunos; 2º - a comunidade escolar tem que estar disponível para um novo tipo de trabalho, portanto, há que se ter uma ruptura no modelo tradicional e uma busca de um modelo pedagógico transformador que vise esta formação do aluno por inteiro, isto é, instrução e vivencia de atitudes e valores e; 3º - a escolha de um profissional da educação que terá o papel de articulador e mediador, no engajamento e discussão das propostas apresentadas, levando ao aluno a possibilidade de vivenciar os seus valores de forma ampla, dinâmica e objetiva. Refere-se, aqui que existem possibilidades de ações a partir de reflexões filosóficas possíveis de uma escola com cultura de pensar e agir em prol da humanidade.
4. CONCLUSÃO Os dados encontrados nesta pesquisa preliminar, que visa delinear o perfil do adolescente, hoje, apontam algumas tendências que permitem ensaiar inferências educacionais que contribuam para a abordagem de propostas de aprendizagem, de teor significativo, para essa etapa essencial do desenvolvimento humano. Percebe-se, no quadro de características analisadas nesta amostragem parcial, o adolescente, com seus medos, sonhos e conflitos pessoais em busca de valores para fundamentar suas ações. E, é aí que se percebe a necessidade de a Escola proporcionar ao adolescente as condições ideais em que ele possa ressignificar a sua realidade construindo a sua identidade baseada em valores que permitam a sua formação sócio-econômico-político-cultural voltada par uma sociedade justa e fraterna. O resultado deste trabalho pretende, através deste texto reflexivo, oportunizar novas reflexões sobre a Escola ser um lugar, por excelência, significativo e próprio para que os alunos possam alcançar, além de sua autonomia intelectual, a sua autonomia moral. A análise dos dados remete-nos para a necessidade de efetivarmos a pesquisa indicada, em toda a sua extensão, englobando outras questões valorativas não indicadas nesse estudo por razões específicas ao tipo de trabalho que aqui se apresentou. Sabe-se que esta mudança requer mudança também, no que se entende por formação do aluno enquanto sujeito de sua própria história e da história de seu povo. Esta é uma busca para a formação da cidadania: o sujeito que sabe que faz, mas que pensa que se emociona e que pode participar critica e conscientemente na sociedade em que vive. Descrição Bibliográfica das autoras: Profª. Dr.ª
Míriam P. S. Zippin Grispun Profª
Cristina Novikoff Quadro síntese do perfil do jovem.
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