Diretrizes Doutrinárias

O Livro dos Espíritos

Parte 3ª - Das Leis Morais
 


Cap. I - Das Leis Divinas ou Leis Naturais

O bem e o mal


629 Que definição se pode dar à moral?
– A moral é a regra do bem proceder, ou seja, a que permite distinguir entre o bem e o mal. Ela é fundada sobre o cumprimento da lei de Deus. O homem procede bem quando faz tudo para o bem de todos porque, então, cumpre a lei de Deus.

 


Cap. VII - Da Lei de Sociedade

Necessidade da vida social


766 A vida social é uma obrigação natural?
– Certamente. Deus fez o homem para viver em sociedade. Deus deu-lhe a palavra e todas as demais faculdades necessárias ao relacionamento.

767 O isolamento absoluto é contrário à lei natural?
– Sim, uma vez que os homens procuram por instinto a sociedade, para que todos possam concorrer para o progresso ao se ajudarem mutuamente.

768 O homem, ao procurar viver em sociedade, apenas obedece a um sentimento pessoal, ou há um objetivo providencial mais geral?
– O homem deve progredir, mas não pode fazer isso sozinho porque não dispõe de todas as faculdades; eis por que precisa se relacionar com outros homens. No isolamento, se embrutece e se enfraquece.

* Nenhum homem possui todos os conhecimentos. Pelas relações sociais é que se completam uns aos outros para assegurar seu bem estar e progredir: é por isso que, tendo necessidade uns dos outros, são feitos para viver em sociedade e não isolados.

 


Cap. X - Da Lei de Liberdade

Livre-Arbítrio


843 O homem tem sempre o livre-arbítrio?
– Uma vez que tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem o livre-arbítrio o homem seria como uma máquina.

844 O homem desfruta de seu livre-arbítrio desde seu nascimento?
– Há liberdade de agir desde que haja a liberdade de fazer. Nos primeiros tempos da vida a liberdade é quase nula; ela vai evoluindo e seus objetivos mudam de acordo com o desenvolvimento das faculdades. A criança, tendo pensamentos relacionados com as necessidades de sua idade, aplica seu livre-arbítrio às escolhas que lhe são necessárias.

845 As predisposições instintivas que o homem traz ao nascer não são um obstáculo ao exercício do livre-arbítrio?
– As predisposições instintivas são do Espírito antes de sua encarnação; conforme é mais ou menos adiantado, podem levá-lo a praticar atos condenáveis, e ele será auxiliado nisso pelos Espíritos com essas mesmas tendências, mas não há arrebatamento irresistível quando se tem a vontade de resistir. Lembrai-vos de que querer é poder. (Veja a questão 361.)

846 O organismo tem influência sobre os atos da vida? E se tem, ela não acaba anulando o livre-arbítrio?
– O Espírito está certamente influenciado pela matéria que o pode entravar em suas manifestações; eis por que, nos mundos onde os corpos são menos materiais, as faculdades se desenvolvem com mais liberdade. Porém, não é o instrumento que dá as faculdades. Além disso, é preciso separar aqui as faculdades morais das intelectuais; se um homem tem o instinto assassino, é seguramente seu próprio Espírito que o possui e o transmite, e não seus órgãos. Aquele que canaliza o pensamento para a vida da matéria torna-se semelhante ao irracional e, pior ainda, porque não pensa mais em se prevenir contra o mal, e é nisso que é culpado, uma vez que age assim por sua vontade. (Veja a questão 367 e segs. – “Influência do organismo”.)

847 A anormalidade das faculdades tira do homem o livre-arbítrio?
– Aquele cuja inteligência é perturbada por uma causa qualquer não é mais senhor de seu pensamento e assim não tem mais liberdade. Essa anormalidade é, muitas vezes, uma punição para o Espírito que, numa outra encarnação, pode ter sido fútil e orgulhoso e ter feito mau uso de suas faculdades. Ele pode renascer no corpo de um deficiente mental, como o escravizador no corpo de um escravo e o mau rico no de um mendigo. Porém, o Espírito sofreu esse constrangimento com perfeita consciência. Está aí a ação da matéria. (Veja a questão 371 e seguintes)

 


Cap. XI - Da Lei de Justiça

Caridade e amor ao próximo


886 Qual é o verdadeiro sentido da palavra caridade como a entendia Jesus?
– Benevolência com todos, indulgência com as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.

* O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer todo o bem que está ao nosso alcance e que gostaríamos que nos fosse feito. Esse é o sentido das palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros como irmãos”.
A caridade, para Jesus, não se limita à esmola. Ela abrange todas as relações com nossos semelhantes, sejam inferiores, iguais ou superiores. Ensina a indulgência, porque temos necessidade dela, e não nos permite humilhar os outros, ao contrário do que muitas vezes se faz. Se uma pessoa rica nos procura, temos por ela mil atenções, mil amabilidades; se é pobre, parece não haver necessidade de nos incomodar. Porém, quanto mais lastimável sua posição, mais se deve respeitar, sem nunca aumentar sua infelicidade pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância entre ambos.

887 Jesus também disse: “Amai até mesmo os inimigos”. Porém, o amor aos inimigos não é contrário às nossas tendências naturais? A inimizade não provém da falta de simpatia entre os Espíritos?
– Sem dúvida, não se pode ter pelos inimigos um amor terno e apaixonado; não foi o que Jesus quis dizer. Amar aos inimigos é perdoar e pagar o mal com o bem. Agindo assim nos tornamos superiores a eles; pela vingança, nos colocamos abaixo deles.

 


Cap. XII - Da Perfeição Moral

As virtudes e os vícios


893 Qual a mais meritória de todas as virtudes?
– Todas as virtudes têm seu mérito, porque indicam progresso no caminho do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências; mas a sublimidade da virtude é o sacrifício do interesse pessoal pelo bem de seu próximo, sem segundas intenções. A mais merecedora das virtudes nasce da mais desinteressada caridade.

894 Há pessoas que fazem o bem de maneira espontânea, sem precisar vencer nenhum sentimento contrário; têm tanto mérito quanto as que têm de lutar contra sua própria natureza e que a superam?
– As que não têm de lutar é porque nelas o progresso está realizado. Lutaram antes e venceram. Para estas os bons sentimentos não custam nenhum esforço e suas ações parecem todas naturais: para elas o bem tornou-se um hábito. Deve-se honrá-las como a velhos guerreiros que conquistaram respeito.

Como ainda estais bem longe da perfeição, esses exemplos espantam pelo contraste e são mais admirados por serem raros; mas sabei que, nos mundos mais avançados, o que aqui é exceção lá é a regra. O sentimento do bem é espontâneo por toda parte, porque são habitados só por bons Espíritos, e uma única má intenção seria para eles uma exceção monstruosa. Por isso nesses mundos os homens são felizes. E assim será na Terra quando a humanidade se transformar, compreender e praticar a caridade em seu verdadeiro sentido.

895 Além dos defeitos e vícios sobre os quais ninguém se enganaria, qual o sinal mais característico da imperfeição?
– O interesse pessoal. As qualidades morais são, freqüentemente, como banho de ouro sobre um objeto de cobre que não resiste à pedra de toque1. Um homem pode ter qualidades reais que fazem dele, diante de todos, um homem de bem. Mas essas qualidades, ainda que sejam um progresso, nem sempre resistem a certas provas, e basta tocar no interesse pessoal para colocar o fundo a descoberto. O verdadeiro desinteresse é coisa tão rara na Terra que é admirado como um fenômeno quando se apresenta.

O apego às coisas materiais é um sinal notório de inferioridade, porque quanto mais o homem se prende aos bens deste mundo menos compreende sua destinação. Pelo desinteresse, ao contrário, prova que vê o futuro sob um ponto de vista mais elevado.

897 É repreensível aquele que faz o bem, sem visar recompensa na Terra, mas na esperança de ser recompensado na outra vida, para que lá sua posição seja melhor? Esse pensamento prejudica seu progresso?
– É preciso fazer o bem pela caridade, com desinteresse.

897 a Entretanto, cada um tem o desejo natural de progredir, para sair do estado aflitivo desta vida; os próprios Espíritos nos ensinam a praticar o bem com esse objetivo; será, então, um mal ao pensar que fazendo o bem podemos esperar mais do que na Terra?
– Certamente que não; mas aquele que faz o bem sem segundas intenções e pelo único prazer de ser agradável a Deus e ao próximo já está num certo grau de adiantamento que lhe permitirá atingir muito mais cedo a felicidade do que seu irmão que, mais positivo, faz o bem calculadamente e não por uma ação espontânea e natural de seu coração. (Veja a questão 894.)

897 b Não há aqui uma distinção a fazer entre o bem que se pode fazer ao próximo e o esforço que se faz para corrigir as próprias faltas? Concebemos que fazer o bem com o pensamento de que será levado em conta em outra vida é pouco meritório. Mas corrigir-se, vencer as paixões, melhorar o caráter para se aproximar dos bons Espíritos e se elevar será igualmente um sinal de inferioridade?
– Não, não. Quando dizemos fazer o bem, queremos dizer ser caridoso. Aquele que calcula o que cada boa ação pode lhe render na vida futura, assim como na terrestre, age como egoísta. Porém, não há nenhum egoísmo em desejar se melhorar para se aproximar de Deus, porque esse deve ser o objetivo para o qual cada um de nós deve se dirigir.

903 É errado estudar os defeitos dos outros?
– Se é para divulgação e crítica há grande erro, porque é faltar com a caridade. Porém, se a análise resultar em seu proveito pessoal evitando-os para si mesmo, isso pode algumas vezes ser útil. Mas é preciso não esquecer que a indulgência com os defeitos dos outros é uma das virtudes contidas na caridade. Antes de censurar os outros pelas imperfeições, vede se não se pode dizer o mesmo de vós. Empenhai-vos em ter as qualidades opostas aos defeitos que criticais nos outros, esse é o meio de vos tornardes superiores; se os censurais por serem mesquinhos, sede generosos; por serem orgulhosos, sede humildes e modestos; por serem duros, sede dóceis; por agirem com baixeza, sede grandes em todas as ações. Em uma palavra, fazei de maneira que não se possa aplicar a vós estas palavras de Jesus: “Vêum cisco no olho de seu vizinho e não vê uma trave no seu”.

 

As virtudes e os vícios


919 Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir aos arrastamentos do mal?
– Um sábio da Antiguidade vos disse: “Conhece-te a ti mesmo”.

919 a Concebemos toda sabedoria desse ensinamento, mas a dificuldade está precisamente em conhecer-se a si mesmo; qual é o meio de conseguir isso?
– Fazei o que eu fazia quando estava na Terra: no fim do dia, interrogava minha consciência, passava em revista o que havia feito e me perguntava se não havia faltado com o dever, se ninguém tinha do que se queixar de mim. Foi assim que consegui me conhecer e ver o que havia reformado em mim. Aquele que, a cada noite, se lembrasse de todas as suas ações do dia e se perguntasse o que fez de bom ou de mau, orando a Deus e ao seu anjo de guarda para esclarecê-lo, adquiriria uma grande força para se aperfeiçoar porque, acreditai em mim, Deus o assistiria. Interrogai-vos sobre essas questões e perguntai o que fizestes e com que objetivo agistes em determinada circunstância, se fizestes qualquer coisa que censuraríeis em outras pessoas, se fizestes uma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai-vos ainda isso: se agradasse a Deus me chamar nesse momento, teria eu, ao entrar no mundo dos Espíritos, onde nada é oculto, o que temer diante de alguém? Examinai o que podeis ter feito contra Deus, depois contra vosso próximo e, por fim, contra vós mesmos. As respostas serão um repouso para vossa consciência ou a indicação de um mal que é preciso curar.

O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do melhoramento individual. Mas, direis, como proceder a esse julgamento? Não se tem a ilusão do amor-próprio que ameniza as faltas e as desculpa? O avaro acredita ser simplesmente econômico e previdente; o orgulhoso acredita somente ter dignidade. Isso não deixa de ser verdade, mas tendes um meio de controle que não pode vos enganar. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, perguntai-vos como a qualificaríeis se fosse feita por outra pessoa; se a censurais nos outros, não poderá ser mais legítima em vós, porque Deus não tem duas medidas para a justiça. Procurai, assim, saber o que os outros pensam, e não negligencieis a opinião dos opositores, porque estes não têm nenhum interesse em dissimular a verdade e, muitas vezes, Deus os coloca ao vosso lado como um espelho, para vos advertir com mais franqueza do que faria um amigo. Que aquele que tem a vontade séria de se melhorar sonde sua consciência, a fim de arrancar de si as más tendências, como arranca as más ervas de seu jardim. Que faça o balanço de sua jornada moral, como o mercador faz a de suas perdas e lucros, e eu vos asseguro que isso resultará em seu benefício. Se puder dizer a si mesmo que seu dia foi bom, pode dormir em paz e esperar sem temor o despertar na outra vida.

Submetei à análise questões claras e precisas e não temeis multiplicá-las: pode-se muito bem dedicar alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias visando a juntar o que vos dê repouso na velhice? Esse repouso não é objeto de todos os vossos desejos, o objetivo que vos faz suportar fadigas e privações momentâneas? Pois bem! O que é esse repouso de alguns dias, perturbado pelas enfermidades do corpo, ao lado daquele que espera o homem de bem? Não vale a pena fazer algum esforço? Sei que muitos dizem que o presente é positivo e o futuro incerto; portanto, eis aí, precisamente, o pensamento de que estamos encarregados de destruir em vós, porque desejamos que compreendais esse futuro de maneira que não possa deixar nenhuma dúvida na vossa alma. Eis por que chamamos inicialmente vossa atenção para os fenômenos que impressionavam os vossos sentidos e depois vos demos as instruções que cada um está encarregado de divulgar. Foi com esse objetivo que ditamos O Livro dos Espíritos.

Santo Agostinho

* Muitas faltas que cometemos passam despercebidas por nós; se, de fato, seguindo o conselho de Santo Agostinho, interrogarmos mais freqüentemente nossa consciência, veremos quantas vezes falhamos sem perceber, por não examinar a natureza e a motivação de nossos atos. A forma interrogativa tem alguma coisa de mais preciso do que o ensinamento do “conhece-te a ti mesmo”, que freqüentemente não se aplica a nós mesmos. Ela exige respostas categóricas, por um sim ou um não, que não deixam alternativa; são igualmente argumentos pessoais, e pela soma das respostas pode-se calcular a soma do bem e do mal que está em nós.

 

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