14ª Mini-Jornada da Família "Violência familiar e a desestruturação do jovem" ARTIGOS E MENSAGENS Reflexões sobre a Violência Jaci Regis A sociedade se apavora e com razão, diante da escalada de violência praticada por meliantes, criminosos, assassinos, sequestradores, falsificadores, assaltantes. Os meios de comunicação preenchem seus horários e espaços com larga divulgação de atos violentos, inclusive com transmissão direta, pela TV, de um assalto a um ônibus, no Rio de Janeiro, levando aos lares o espetáculo da violência e da truculência. Ignora-se a importância das imagens para a formação de medos e condutas mentais depressivas e ansiosas, geradoras de problemas difíceis para as pessoas. Despreza-se, também, de modo geral, a influência das vibrações emocionais que se comunicam silenciosas, mas não menos eficientes. Assim, além da realidade brutal, cria-se uma situação virtual, pela qual, cada um pode se julgar a próxima vítima, aumentando o desequilíbrio social. Nesse sentido, parece ter razão O Livro dos Espíritos quando afirma: É preciso que haja excesso do mal, para fazer-lhes(o homem) compreender a necessidade do bem e das reformas(784) Fatores a ponderar Temos como fatores preponderantes na explosão da violência:
Causas
Psicossociais 2. Se, desde o início do século XX, começaram a ser questionados mandamentos e parâmetros sociais cerceadores e castradores, após a 2ª Grande Guerra esse questionamento tomou um rumo mais definido. Aceleram-se as derrubadas de costumes e tradições. A mais importante, talvez, seja a liberação da sexualidade, dentro dessa visão niilista, exacerbando uma pretensa conquista da pessoa para agir irresponsavelmente, instintivamente, sem construir laços duradouros de relação humana. Consequentemente, os padrões de casamento e família são revisados numa perspectiva individualista, egoísta e, certamente, insatisfatória.
Causas
Econômico-sociais Nossa sociedade está marcada por contrastes, mas também avoluma-se a massa que reivindica sua participação no bem-estar, provocando certa convulsão social mas que, separados os excessos, é mecanismo decisivo para promover mudanças no cenário econômico e político. Essa realidade do quadro social seria, em tese, segundo muitos analistas, sociólogos e políticos, a grande, senão a única, responsável pelo surgimento da onda de violência urbana. A violência e a precocidade dos criminosos, segundo esses analistas, seria consequência da injustiça social e acusam o governo de utilizar um modelo econômico perverso. 2.Desemprego - Ultimamente, além do viés liberal da economia mundial, desenvolveu-se todo um aparato tecnológico e a economia de escala, globalizada, dispensou uma porção considerável de mão de obra. Em toda a economia liberal, o número de desempregados é grande, com exceção, neste momento, dos Estados Unidos. Os agentes da violência Existe uma tendência de afastar a responsabilidade dos agentes da violência. Estes seriam vítimas do sistema. Dessa forma, o problema é transferido diretamente para as instituições. Curiosamente, a sociedade como um todo, principalmente os detentores do poder econômico são, sob certa forma, poupados. Como a propaganda mais agressiva é promovida pelas chamadas esquerdas, o foco, na verdade vai para o governo. O governo seria o responsável pela violência, pela deficiência da escola, pela pobreza. Pois perseguem utopia do Estado perfeito, capaz de socorrer, planejar, executar, escutar, agir, de maneira absolutamente eficaz, todos os males sociais. É claro que o governo, de qualquer nível, tem o dever de promover o bem-estar social, mas o trabalho é de toda a sociedade. Entretanto, mesmo que pressionados pela exclusão social, não há como ressalvar a responsabilidade dos agentes criminosos, individualmente. O Livro dos Espíritos é taxativo: não há arrastamento irresistível, quando se tem vontade de resistir(845);
Sobre a
crueldade, O Livro nos traz interessantes posições:
E mais: Contribuição do Espiritismo O Espiritismo pode ser um fator de equilíbrio na vida social. Pelo ensino da imortalidade, ele leva à compreensão que a adesão e a prática dos valores morais constitui-se numa necessidade de autopreservação da estrutura mental do ser. Aparentemente, ressaltar a natureza espiritual evolutiva do ser humano e a perspectiva de uma vida permanente, parece inócuo perante o quadro de realidades sociais e da violência cotidiana. Todavia, se o aparelho social tiver essa consciência, as elites, as religiões, enfim, os governantes e detentores do poder econômico, terão um comportamento diferente ou menos infeliz que atualmente. Essa motivação projetará reformas e modificações sensíveis nas relações humanas. Segundo O Livro dos Espíritos, o Espiritismo pode contribuir para o progresso destruindo o materialismo que é uma das chagas da sociedade, ele faz os homens compreenderem onde está seu verdadeiro interesse. A vida futura, não estando mais velada pela dúvida, o homem compreenderá melhor que pode assegurar o seu futuro através do presente. Destruindo os preconceitos de seita, de casta e de cor ele ensina aos homens a grande solidariedade que os deve unir como irmãos .(Questão 790). Alguém argumentará que essa premissa, embora generosa, não é apenas incerta, mas demorada, não contribuindo, a curto prazo, para a solução dos problemas da violência. Certamente, a sociedade como um todo precisa encontrar caminhos para a resolução ou pelo menos minorar o problema social. Mas o Espiritismo jamais pretendeu comandar a renovação social. Sua contribuição, aparentemente sonhadora, é pressionar o pensamento humano em direção a uma nova mentalidade a respeito da pessoa e das coletividades. Todavia, para que a doutrina exerça sua influência, precisa precaver-se com um entendimento pernicioso, que tenta vincular os problemas da existência humana às culpas do passado, ou seja a fatalidade pré-construída, pelo fato de cada pessoa trazer um pecado originário das vidas passadas e insistir que sofrer é o melhor remédio.
Vejamos, por
exemplo, este texto de O Livro dos Espíritos: Se entendido literalmente, o texto pressupõe que a miséria, a exclusão social, seriam requeridas pela própria pessoa e que ser feliz é uma covardia.
Tal
interpretação levaria a sancionar a injustiça social, a
edificação de uma sociedade de sofredores e miseráveis, o
que contraria o que está nos itens abaixo:
808 - A
desigualdade das riquezas não tem sua origem na desigualdade
de faculdades, que são a uns mais meios de adquirir do que a
outros?
812 - Se a
igualdade das riquezas não é possível, acontece o mesmo com
o bem-estar? Já na questão 719, se diz que "O bem-estar é um desejo natural. Deus só proíbe o abuso, por ser contrário à conservação, e não considera um crime a procura do bem-estar,se este não for conquistado às expensas de alguém, e se não enfraquecer vossas força morais, nem as vossas forças físicas". Se o indivíduo é sempre culpado pela suas ações, há atenuantes que passam a ser responsabilidade coletiva. A política social do Espiritismo é bem clara . Em resumo, o Espiritismo não sancionará a injustiça social, a pretexto de estar sendo cumprida a lei de ação e reação, porque o indivíduo não é um ser isolado mas pertencente à sociedade. Mas não pode concordar com a pré-inocência ou não-culpa dos agentes individuais na prática da violência, em qualquer sentido ou nível. * * * Jaci Regis é psicólogo e jornalista, editor do jornal de cultura espírita Abertura, presidente do Instituto Cultural Kardecista de Santos e autor dos livros Amor, Casamento e Família; Comportamento Espírita; Uma Nova Visão do Homem e do Mundo; A Delicada Questão do Sexo e do Amor, dentre outros. Artigo publicado originalmente no jornal Abertura, de Santos, de setembro de 2000. Fonte: http://www.viasantos.com/pense/arquivo/0015.html
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