14ª Mini-Jornada da Família
"Violência
familiar e a desestruturação do jovem"
ARTIGOS E MENSAGENS
Violência
Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2.
Conceito. 3. Histórico. 4. Violência Manifesta e Violência
Oculta. 5. Raiz da Violência. 6. Injúrias e Violências. 7.
Exercício para nos libertarmos da violência: 7.1. Obediência
e Resignação; 7.2. Paciência. 8. Conclusão. 9. Bibliografia
Consultada.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é analisar a violência, tanto
material quanto moral, e a possibilidade de nos libertarmos
desse cancro que se tornou universal.
2. CONCEITO
Violência vem do latim violentia, que significa violência,
caráter violento ou bravio, força. O verbo violare significa
trotar com violência, profanar, transgredir. Tais termos
devem ser referidos a vis, que quer dizer, força, vigor,
potência. Mais profundamente, a palavra vis significa a
força em ação, o recurso de um corpo para exercer a sua
força e portanto a potência, o valor, a força vital.
O sociólogo H. L. Nieburg
define a violência como "uma ação direta ou indireta,
destinada a limitar, ferir ou destruir as pessoas ou os
bens". (Michaud, 1989)
O Oxford English Dicitonary
define a violência como o "uso ilegítimo da força".
3. HISTÓRICO
Os antigos gregos concebiam o mundo fundamentalmente com
ordem, harmonia, cosmos. Cada ser tinha um lugar destinado e
tudo se resumia a manter a hierarquia dos valores e a
localização de cada um na totalidade. Essa concepção não
implica em luta e violência. No entanto, mesmo entre os
próprios gregos surgiu a concepção do mundo como luta de
contrários. Heráclito proclamou que a guerra é a mãe de
todos as coisas. Em vez de ordem, trata-se de um mundo por
fazer e que se "faz" precisamente no conflito entre as
forças contrárias, do qual brota o novo.
Foi este segundo esquema que
se impôs nos tempos modernos. Hegel concebeu toda a história
como uma luta de contrários em constante autossuperação.
Darwin colocou como motor da evolução a seleção natural na
luta pela vida. E o marxismo aplicou esses esquemas ao
progresso social, que, a seu ver, se realiza através da luta
de classes, que dinamiza a história. Hobbes formula a ideia
dizendo que o "homem é o lobo do próprio homem". Marx
estimula a luta de classes, o capitalismo a luta pelo
dinheiro e pelo poder. A guerra faz parte da condição do
homem frente a natureza.
Em termos da Bíblia, o Antigo
Testamento destaca uma das raízes fundamentais da violência:
o ódio. Esse ódio nos apresentado como fruto do pecado,
sendo, por conseguinte, condenado por Deus (Gn. 4, 1).
Coloca as pessoas em posição de opressão. Assim, os justos
respondem com ódio ao ódio dos opressores. Amar os ímpios
significa trair a causa de Iahweh. O Novo Testamento surgiu
em mundo sacudido pelo ódio e pela violência. O ideal
evangélico pareceu oposto à própria luta pela vida, que,
como já vimos, exige a competição e a rivalidade, voltadas
para metas sempre difíceis. (Idígoras, 1983)
4. VIOLÊNCIA MANIFESTA E
VIOLÊNCIA OCULTA
O ato da criação narrado na Bíblia é um ato de violência,
embora não seja um ato manifesto. Observe que Adão e Eva são
expulsos do paraíso por desobedecerem a Lei de Deus; não
houve, por parte do Criador, nenhum perdão. Além do mais,
tanto Adão quanto Eva tiveram que provar o mal para conhecer
o bem.
O ato violento se insinua,
frequentemente, como um ato natural, cuja essência passa
despercebida. Perceber um ato como violência demanda do
homem um esforço para superar a sua aparência de ato
rotineiro, natural e como que inscrito na ordem das coisas.
A guerra, por exemplo, é um ato violento, o mais violento de
todos. Contudo, dependendo das razões levantadas (defesa da
pátria), torna-se um ato heróico.
Matar em defesa da honra,
qualquer que seja essa honra, em muitas sociedades e grupos
sociais, deixa de ser um ato de violência para se converter
em ato normal quando não moral de preservação de valores
que são julgados acima do respeito à vida humana (Odalia,
1991, p. 22 e 23)
5. RAIZ DA VIOLÊNCIA
Podemos enumerar vários tipos de violência: violência
agressiva, violência do espírito de competição, violência
dos que querem tornar-se "importantes", dos que procuram
disciplinar-se segundo um padrão para alcançarem "posição",
dos que se reprimem, tiranizam e embrutecem a si próprios, a
fim de se tornarem "não-violentos". Os santos, por exemplo,
são violentos porque querem disciplinar-se a si mesmos.
Onde está a fonte, a raiz da violência?
Segundo Krishnamurti, "a
fonte da violência é o "eu", o "ego", que se expressa de
muitos e vários modos dividindo, lutando para tornar-se ou
ser importante etc.; que se divide em "eu" e "não eu", em
consciente e inconsciente; que se identifica, ou não, com a
família, a comunidade etc. (1976, p. 67)
6. INJÚRIAS E VIOLÊNCIAS
"Haveis aprendido o que foi dito aos Antigos: Vós não
matareis, e todo aquele que matar merecerá ser condenado
pelo julgamento. Mas eu vos digo que todo aquele que se
encolerizar contra seu irmão merecerá ser condenado pelo
julgamento; que aquele que disser a seu irmão Racca,
merecerá ser condenado pelo conselho; e que aquele que lhe
disser: Vós sois louco, merecerá ser condenado ao fogo do
inferno".(Mateus, 21 e 22)
"Por essas máximas, Jesus faz
da doçura, da moderação, da mansuetude, da afabilidade e da
paciência uma lei: condena, por conseguinte, a violência, a
cólera e mesmo toda expressão descortês com respeito ao
semelhante". (Kardec, 1984, p. 125)
7. EXERCÍCIO PARA NOS
LIBERTARMOS DA VIOLÊNCIA
7.1. OBEDIÊNCIA E RESIGNAÇÃO
A obediência, que é o consentimento da razão, e a
resignação, que é o consentimento do coração são bons
auxiliares no processo de libertação da violência. Essas
duas virtudes são companheiras da doçura e muito ativas, e a
maioria dos homens confundem-nas com a inércia. Muito pelo
contrário, há que se ter muita força interior para resistir
aos desejos, às paixões ou à revolta ante uma ofensa. O
verdadeiro resignado chega até a renunciar ao direito de
queixa.
Religiosamente considerada, a
obediência é submetermo-nos primeiramente à vontade de Deus
e, depois, à vontade dos homens, desde que postos
hierarquicamente por Deus. O "pecado" surge pela
desobediência às leis divinas. Nesse sentido, a resignação é
a aceitação serena das consequências advindas das infrações
cometidas com relação a tais leis.
Jesus Cristo é o modelo da
perfeita obediência. Obedeceu a Deus, aos pais terrestres e
aos seus superiores. Contudo, não foi conivente com a
corrupção do povo de sua época. Forneceu-nos o exemplo da
humildade, da paciência e da renúncia, a fim de atender aos
desígnios do Alto. Sua resignação ante o Pai fê-lo morrer na
cruz. Ainda aí não arredou o pé, preferindo o martírio, no
sentido de enaltecer a verdade e com isso iluminar os nossos
corações endurecidos. (Kardec, 1984, p. 128)
7.2. PACIÊNCIA
Talvez queiramos guerrear com o nosso vizinho, chamar-lhe a
atenção e dizer-lhe muitos impropérios. Contudo, se
soubermos esperar o momento oportuno para uma observação, um
pedido, uma repreensão, o quadro que era de ódio e de rancor
modifica-se instantaneamente. Agindo dessa forma, é possível
que os outros nos taxem de tolos, de covardes. Não importa;
o que conta é termos a consciência tranqüila ante o dever
cumprido; só assim conquistaremos a felicidade que sempre
dura. Além do mais, o exercício constante da paciência
propicia-nos a fortaleza de ânimo. A vida compõe-se de mil
nadas que acabam por nos ferir: ofensas, desentendimento e
recusa são, dentre muitos, os problemas que temos de
enfrentar. Nesse sentido, lembremo-nos de que nossa evolução
não se processa através de facilidades, mas pelas
dificuldades que tivermos vencido. Paciência é a virtude por
excelência, pois sem ela facilmente sucumbiríamos ante as
pedras do caminho. Saibamos confiar em Deus, aguardando no
trabalho, a realização de sua eterna Vontade. (Kardec, 1984,
p. 127)
8. CONCLUSÃO
Saibamos ponderar os esforços para a erradicação da
violência. Quem sabe não estamos nos violentando a pretexto
de eliminar a violência que há dentro de nós?
9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed., São
Paulo, IDE, 1984.
IDÍGORAS, J. L. Vocabulário Teológico para a América Latina.
São Paulo, Edições Paulinas, 1983.
KRISHNAMURTI, J. Fora da Violência. São Paulo, Cultrix,
1976.
MICHAUD, Y. A Violência. São Paulo, Ática, 1989.
ODALIA, N. O Que é a Violência. 6. ed., São Paulo,
Brasiliense, 1991 (Coleção Primeiros Passos, n.º 85)
Fonte:
http://www.ceismael.com.br/artigo/violencia-manifesta-e-oculta.htm
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