16ª Mini-Jornada da Família
"O
consumismo material e a educação familiar"
ARTIGOS E MENSAGENS
Seu filho precisa
mesmo ser tão feliz?
Por Cris Leão
No meu tempo de criança, os pais eram pessoas esforçadas
pelo sustento da família. Com ostentação ou sem, as pessoas
eram mais preocupadas com o trabalho do que com ser feliz.
Talvez por isso, já que filhos querem sempre fazer tudo
diferente dos pais, agora todo mundo quer fazer o filho
feliz, acima de tudo. Isso explica os valores escandalosos
que se paga hoje em dia por uma festa de aniversário, a
quantidade de brinquedos que as crianças têm e o número
enorme de brasileiros indo para a Disney, às vezes para
passar o final de semana. Claro que existe a culpa de muitos
pais que trabalham demais e tentam compensar os filhos de
alguma forma. Mas reflexo da culpa ou não, as crianças de
agora nasceram para ser felizes. Será que está certo isso?
Vamos lembrar da nossa infância. Eu pelo menos, era muito
feliz. Brincando com minha amiga que morava na casa ao lado,
passávamos horas penteando o cabelo uma da outra, ou fazendo
comidinha com as plantas do jardim. A maior aventura de que
me recordo era brincar de pega-pega com o meu cachorro.
Muito básico para você? Acontece que meu cachorro se
transformava em uma onça que na verdade era uma Medusa,
então em um simples olhar, ele poderia nos transformar em
pedras. Por isso estávamos sempre equipadas com frascos
vazios de shampoo cheios de água que explodiam como granadas
quando caiam no chão. Pois é, criança vem com imaginação de
berço. Por isso não precisa ir até Orlando ver os
espetáculos de fogos de artifício para ficar maravilhada.
Aliás, cá entre nós, já estive na Disney 3 vezes (2 em
Orlando e 1 em Paris) e nunca vi tanta criança triste em um
parque. Chorando, cansadas, angustiadas, com as mães e os
familiares estressados. Claro, já viu o tamanho do lugar? E
a quantidade de informação? E de sorrisos maquiados,
brilhos, alegria explosiva? Gente, somos humanos. Isso não é
um filme. É vida real. Não somos super heróis, nem
princesas. Seu filho vai comer aquela salsicha processada
junto com aquele pão velho de uma lanchonete linda com
várias coisas girando, e pode ser que passe mal. E ai? Não!
Não pode passar mal na Disney. Tem que curtir. Tem que ser
feliz.
Eu trabalhei para a Disney traduzindo todos os materiais
para português durante 4 anos. Sou encantada com a empresa e
com o negócio em si, gosto de ir porque moro a 300
quilômetros de distância, temos o passe anual então é um
programa barato em um lugar super organizado e bonito na
maioria das vezes. Só estou usando de exemplo porque sei que
é uma viagem muito cara para se fazer do Brasil mas isso não
está impedindo cada vez mais brasileiros de fazerem. Minha
pergunta usando este exemplo é: será que precisamos fazer
tanto pelos nossos filhos? (Viagem de 8 horas de avião,
filas intermináveis, quilômetros e mais quilômetros de
parque de diversão) Eu suponho que não. E que está errado os
pais sentirem que são responsáveis por fazer dos filhos,
pessoas felizes. De onde tiramos essa ideia maluca?
O que eles precisam na verdade é de adultos para educá-los.
E como adultos é claro que estamos ocupados. Com a família,
com o trabalho, com as funções da casa. Se nessa lista se
somar a felicidade do(s) meu(s) filho(s) alguém vai ficar
muito sobrecarregado e frustRado. Talvez seu filho, talvez
você, talvez todo mundo. É chato tentar e não conseguir. Já
pensou como sente os pais que pagaram a viagem em 6 vezes,
passaram 8 horas na lata de sardinha, mais 1 hora em um
brinquedo se o filho sair do brinquedo chorando?
Uma vez eu li o livro Encantador de Cães e fiquei fascinada
com o raciocínio simples que o genial Cesar Millan escreve
ali. Ele diz que cães só vão obedecer quem eles respeitam. E
para ganhar respeito, é preciso ser a autoridade, é preciso
colocar ordem antes do amor. Agora tente trocar a palavra
cães por filhos, dá no mesmo. Autoridade é o contrário
de democracia. Os pais não podem estar sempre abertos o que
querem comer, o que vamos fazer hoje, onde vamos passar as
férias. Entende como é complicado para a criança ouvir
isso? Sentir que não existe uma ordem. Ela no auge dos seus
4 anos (ou por volta disso) é que precisa saber, querer e
lidar com seus desejos. Meu Deus, está tudo errado ai. No
meu tempo de criança, minha mãe interrompia a brincadeira
trazendo uma bandeja com uma limonada fresca e biscoitos
Maria. Sempre que lembro dessa cena (que aconteceu várias
vezes) ela aparece iluminada como uma fada. O que eu sentia
era: Nossa, ela é mágica! Como ela sabe que estamos com fome
e com sede? Teria sido bem diferente se ela tivesse
aparecido e perguntado: querem lanchar? vão querer sorvete
ou pode ser biscoito mesmo? Estava pensando em fazer uma
limonada, vocês vão beber? Ou é melhor eu trazer um suco de
uva?
Infelizmente não estou escrevendo isso porque já aprendi a
lição depois de ler o livro. Estou tentando aprender. E só
estou escrevendo sobre isso porque descobri que tenho errado
bastante. Desde que nos mudamos para Miami, fico com pena e
compaixão por qualquer expressão de sofrimento que meus
filhos tenham. Porque sei que é difícil para eles. E até
esqueço que é difícil também para mim. Minha vida mudou
completamente. Mas nem lembro disso. Só penso neles. A
consequência? Minha filha de 4 anos cada dia faz uma coisa
para me irritar. E então percebi que ela está fazendo isso
porque eu estou irritando ela. E porque? Porque estou aberta
todos os dias para ouvir, para entender o lado dela. Não
parece errado à princípio, certo? Mas está errado. Criança
precisa de adulto, alguém que tenha um norte, e ela
acompanha o caminho, se frustando, entendendo seus limites e
entendendo, porque não, que a vida não é um parque de
diversões cheio de pessoas fantasiadas sorrindo para você o
dia todo. A vida é para evoluir. Vamos tentar evoluir como
pais antes que eles cresçam. Já pensou como deve ser
frustante a adolescência de uma criança que sempre teve uma,
duas, ou mais pessoas prontas a atender seus pedidos? Como
deve ser difícil perder para um adulto que passou a infância
sempre ganhando? Nem que a custa de 12 sofridas prestações
para os pais?
Educar dá mais trabalho do que servir o sorvete antes do
jantar, já que seu filho está querendo tanto. Educar envolve
mais compromisso do que pagar as 6 parcelas da viagem
mágica. Educar é coisa de gente grande. Deve ser por isso
que crianças não podem ter filhos. Porque filhos precisam de
adultos. Parece que esse é o grande problema da minha
geração, não queremos ser adultos. Outro dia vi um post
sobre a crise dos 25 anos. Levei o maior susto! A maioria
das pessoas que conheço estão nessa crise aos 35 (ou mais).
Está na hora de dar esse passo. Parar de focar só na
diversão e na felicidade e evoluir, amadurecer. Todo grande
passo na vida acontece quando a gente faz aquilo que é
desconfortável. Já aprendemos muito sobre diversão e
entretenimento, que tal agora aprender a viver?
Fonte:
http://antesqueelescrescam.com/2013/11/21/seu-filho-precisa-mesmo-ser-tao-feliz
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