Projeto Manoel Philomeno de Miranda

Caso 4

Orientação equivocada

NARRATIVA

Casada, trabalhava fora do lar, tinha três filhos e um marido que a espancava periodicamente. Freqüentava um Centro Espírita onde participava de um grupo de estudos da mediunidade para a educação da faculdade de que era portadora.

Impossibilitada de continuar o compromisso assumido, por não conseguir conciliar os seus afazeres domésticos e profissionais com as tarefas de educação da mediunidade, pediu licença ao dirigente do grupo para se afastar, não sabendo se temporária ou definitivamente. A resposta foi que teria de desenvolver a mediunidade de qualquer forma, senão seria uma pessoa fadada à infelicidade.

Posteriormente, passou a ter, durante o sono, pesadelos angustiantes. Sonhava com a filha caçula sofrendo vários tipos de acidentes.

Pedia orientação para as suas dificuldades no lar e, também, queria saber se a afirmativa de seu dirigente tinha sustentação doutrinária.

ORIENTAÇÃO

Fomos direto ao problema mais grave dentre os que afligiam aquela mulher: as agressões de que era vítima por parte do marido ébrio.

Ela estava amedrontada e, ao mesmo tempo, conflitada por reconhecer chegado o momento de tomar providências.

“Em casos dessa natureza – dissemos-lhe – a situação se agrava a cada hora, caminhando para um ponto insustentável.

“Você não acha que já é hora de agir? Quanto mais rápido o fizer, menos riscos correrá e mais chances terá de ajudar o companheiro enfermo. Aproveite-lhe um instante de sobriedade e de calma, quando o lar estiver harmonizado, para conversar claramente. Diga-lhe, bondosa, mas com austeridade: - “Não devo suportar mais esta situação para o bem de nós dois. Caso se repitam as agressões, terei que procurar um advogado para me orientar nas medidas que devo tomar, a fim de que não mais passemos por tais constrangimentos. Eu gostaria, sinceramente, que a situação não chegasse a esse ponto. Estou disposta a dar os passos necessários para ajudá-lo e para salvar o nosso casamento. O que mais desejo é que você volte a ser o braço forte e amigo que eu sempre sonhei, a me proteger.”

Mas, eu já me ofereci para essas providências e ele não deu crédito, não se interessou nem um pouco...

Então só lhe restam duas alternativas: tentar mais uma vez ou fazer como lhe orientamos. Analise e decida. Independente dessa decisão, cuide de você mesma: continue, na medida do possível, freqüentando as doutrinárias, procure tomar passes, ore o quanto puder, a fim de se manter em sintonia com os Bons Espíritos.

“Vamos, agora, à questão não menos grave da orientação que você recebeu sobre a obrigatoriedade do desenvolvimento mediúnico, para que não lhe adviessem desgraças. Devo afiançar-lhe que esta orientação é equivocada, pois não existem registros entre os postulados espíritas de que a mediunidade seja fator de desgraça ou infelicidade por ser a mesma, pelo contrário, um caminho de crescimento espiritual. Os fatores que preponderam no cômputo de nossos infortúnios são o passado espiritual e a conduta moral na vida presente; amar, servir, praticar o bem são a forma ideal de reparar erros praticados contra o próximo e as Leis Cósmicas.

“Tranquilize-se e ore, pois os pesadelos que vêm ocorrendo podem desaparecer se feita uma preparação mental cuidadosa antes do repouso noturno. Faça leituras edificantes, meditação sobre o conteúdo lido, oração afervorada.

“Antes de sair, deixe o nome de seu marido para as vibrações a distância e pedido de orientação espiritual”.

COMENTÁRIO

O alcoolismo é, sem dúvida, um dos maiores inimigos da criatura humana. A generalização do uso de álcool vem acarretando circunstâncias dolorosas, dificultando a convivência entre os casais, desfazendo lares e promovendo toda sorte de danos à sociedade.

O Espiritismo veio revelar um componente agravante desse terrível flagelo: a obsessão. Ao desencarnar, o alcoólico permanece vitimado pelo vício, buscando sintonia com pessoas frágeis, temperamentais, violentas, que vivem no trânsito corporal utilizando-se do processo da sintonia mental e emocional para prosseguir no consumo do álcool, aspirando os seus vapores e emanações fluídicas, deleitando-se com o prazer mórbido da embriaguês. Essa parasitose obsessiva torna-se muito difícil de ser combatida, considerando-se a perfeita identificação de interesses e prazeres entre o encarnado e o desencarnado.

Analisando os pesadelos que a nossa consulente passou a experimentar a partir da orientação que recebera do seu dirigente, vemos aí, uma perfeita projeção de seu inconsciente revelando qual seria o objeto perfeito para as ameaças imaginadas. Que desgraças maiores poderiam advir da interrupção da mediunidade senão através da filha caçula, o afeto principal e suporte emocional daquela mulher sofrida? Uma “fantasia” do inconsciente nascida do conflito, do medo imposto pela sugestão negativa e equivocada do orientador despreparado.

Por outro lado, não podemos descartar, nesses pesadelos, a influência espiritual de caráter obsessivo, pois é muito bem sabido que, durante o sono, o Espírito encarnado, liberto do corpo, encontra os desafetos, que passam a atormentá-lo ostensivamente por meio da sugestão hipnótica, promovendo distúrbios inquietantes.

Do livro "Atendimento Fraterno"
Autor: Projeto Manoel Philomeno de Miranda
Editora: Livraria Espírita Alvorada Editora