Projeto Manoel Philomeno de Miranda

Caso 5

Problema Psíquico ou Obsessão

NARRATIVA

Apresentou-se, na Sociedade Espírita Joanna de Ângelis, de Juiz de Fora – MG, um casal com o filho de 16 anos, para o qual pediam orientação e ajuda, visto que o jovem estava com depressão e angustiado.

O atendimento foi realizado com a presença da mãe, através da qual ficamos sabendo que Lincoln (nome fictício) tinha vida normal, era estudioso e praticava esportes.

“No início do ano em curso meu marido resolveu tirá-lo do colégio, meu filho passou mal em plena sala de aula, tendo que se retirar apressadamente, sentindo uma aflição inexplicável, medo e sensação que iria desmaiar. A partir desse dia, embora tentasse, não conseguiu ir às aulas. O estado de angústia tornou-se intenso e não teve mais condições de sair com os colegas antigos, fechando-se em casa, tendo crises de choro, insegurança, medo e profundo abatimento.”

Voltou a mãe a ressaltar as qualidades de Lincoln: excelente filho, estudioso, bom gênio, muito educado e de relacionamento normal com os pais e a irmã mais nova.

A senhora, prosseguindo, comentou que, ao surgirem os primeiros sintomas, foram aconselhados a levar o filho ao Centro Espírita. Isto não seria difícil, pois já estava freqüentando o Espiritismo há algum tempo, assistindo palestras em casas diversas e lendo obras espíritas.

Durante seu relato, Lincoln também forneceu alguns detalhes, porém com certa dificuldade pois emocionava-se até às lágrimas. Era evidente que se tratava de um rapaz dócil, fino, muito educado, de bons sentimentos (inclusive, já participara de reuniões de jovens numa das Instituições Espíritas da cidade) sem vícios, e de excelente conduta.

“Fomos eu, meu marido e Lincoln – continuou a senhora – ao Centro Espírita que nos indicaram e levamos o caso ao conhecimento das pessoas incumbidas desse trabalho, sendo por elas orientados de que se tratava de obsessão grave. A convite, participando de reunião de desobsessão, na qual diversos Espíritos comunicaram-se, dizendo-se inimigos ferrenhos do nosso filho e da família. Ele ficou ainda mais apavorado. Resolvemos tentar outro local e o fato se repetiu de forma semelhante por mais de duas vezes. Invariavelmente ouvíamos esclarecimentos de que eram obsessores terríveis e foram feitas “revelações” do passado da família”.

Após o relato da mãe, pedimos ao próprio Lincoln que narrasse, se fosse possível, os sintomas que o acometiam desde a primeira vez. Ele o fez, com algum esforço.

Ao procurarmos saber se havia recorrido a um médico ou psicólogo responderam que não, pois devido à afirmativa de que era obsessão julgaram que só através do Espiritismo teriam solução para o problema.

ORIENTAÇÃO

Procuramos explicar que existem certos sintomas que podem ser confundidos com obsessão, e que, no caso de Lincoln, tudo indicava ser outro o diagnóstico, embora pudesse haver também componente de ordem espiritual negativa (instintivamente pensávamos tratar-se de síndrome de pânico, mas não o mencionamos para não ferir a ética, já que não temos formação profissional nessa área). Aos poucos, procuramos evidenciar que deveriam consultar um médico, no que concordaram, informando-nos que já estavam pensando em fazê-lo. Acrescentamos que se poderia realizar um tratamento espiritual simultâneo. E porque ambos, mãe e filho, insistissem em saber se era um caso de obsessão grave, respondemos que a nosso ver, tratava-se de outro problema, coisa que só o médico poderia afirmar. Outro ponto importante foram as perguntas que fizeram sobre as orientações que receberam para participarem de reuniões de desobsessão. Esclarecemos que não eram indicadas, explicando que, infelizmente, existem pessoas, embora bem intencionadas, que por falta de estudo da Doutrina Espírita, levam outras a cometerem enganos.

COMENTÁRIOS

Lincoln foi a um psiquiatra e teve o diagnóstico de síndrome do pânico, sendo-lhe prescrita a medicação. Por outro lado, passou a freqüentar a instituição, três vezes por semana, ouvindo as palestras e recebendo fluidoterapia. Ao fim de um ano Lincoln estava com a vida normalizada. A medicação foi sendo reduzida até a suspensão. Voltou aos estudos, aos esportes e ao convívio com os amigos. Prossegue participando das atividades espíritas. Hoje toda a família é profundamente agradecida à Doutrina pelos benefícios recebidos.

Algumas lições importantes a tirar desse fato:

1) nem tudo é obsessão;
2) o perigo de se fazer afirmativas nesse campo tão complexo;
3) a inconveniência de se levar pessoas totalmente despreparadas – e o que é pior: enfermas – para as reuniões de desobsessão.

Do livro "Atendimento Fraterno"
Autor: Projeto Manoel Philomeno de Miranda
Editora: Livraria Espírita Alvorada Editora